Culturalmente e frequentemente, a Páscoa é associada a ovos de chocolate e coelhos, símbolos de fertilidade e renovação, oriundos de tradições germânicas. Enquanto muitos de nós podemos ter memórias afetuosas dessas tradições, elas desviam a atenção do verdadeiro sentido da Páscoa. O enraizamento desses símbolos na cultura cristã vem de um esforço para criar sinergia entre as práticas pagãs e o cristianismo durante a consolidação do império Romano. Apesar disso, é crucial reconhecer que essas tradições culturais não capturam a essência da Páscoa bíblica. O que prevalece, quase sempre, é uma compreensão rasa, superficial e distante do seu sentido próprio.
A Páscoa é muito para ser compreendida em tão pouco. Trata-se do maior triunfo de Deus por ser vitória diante da cruz. Nele reside a alegria crescente do Terceiro Dia, que ressoará pelos corredores da eternidade. “Pesach”, do hebraico: passagem. Cristo ressuscitou. Passou da morte para a vida estabelecendo assim para a humanidade o grande prêmio da salvação. A sua vitória é a nossa vitória. “Se com ele morremos, com ele viveremos” (Rm 6,8).
Deus, por amor morreu na cruz e por amor ressuscitou. Por isso, proclamamos: Jesus é o Senhor! A sua ressurreição realiza plenamente a afirmativa do Salmo 135: “a misericórdia de Deus é eterna, o seu amor é para sempre, não morre jamais”.
Diante da essencialidade e grandiosidade desse Divino Evento, precisamos nos perguntar: a Páscoa acontecerá? haverá ressurreição? São interrogações provocativas, pertinentes e necessárias do ponto de vista vivencial, tendo presente o tempo que agora vivemos e percorremos entendidos como itinerário quaresmal, para a Igreja, tempo favorável. Ocasião para introspecção, auto reflexão e busca de conversão. Precisamos deixar para trás tudo o que nos prende ao mundo do pecado. Tudo o que possa ter qualquer conotação escravidão e subjugação, e adotar práticas que nos levem a plena liberdade. E se assim não for, já temos a negativa resposta por antecipação: não haverá ressurreição.
Precisamos completar a travessia desse deserto penitencial com firmeza e “espírito decidido”, para que seja autêntica e transformadora a nossa experiência: morrer com Cristo na sexta da paixão, para com ele renascer no domingo da ressurreição. É preciso com Ele descer à sepultura, para com Ele ressurgir triunfante. É a quaresma que antecede a Páscoa. É a morte que prepara a ressurreição. Mais uma vez vale dizer: “Se com Ele morremos, com Ele viveremos” (Rm 6,8).
Faço votos que as celebrações da quinta-feira santa e da sexta-feira sejam vividas com espírito de fé e piedade. Agindo assim, estaremos preparando os nossos corações para a grande celebração da Vigília Pascal, onde poderemos proclamar a ressurreição de Jesus e a nossa com Ele. Será ocasião de júbilo, onde cantaremos com alegria o “Aleluia”. Feliz e abençoada Páscoa para você e sua família.