Resumo da encíclica “Fratelli tutti”

04 de Outubro de 2020

Resumo da encíclica “Fratelli tutti”

Logo que recebi o texto da Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco – assinada em Assis no dia 03 de outubro de 2020 – comecei imediatamente a ler, imaginando que continuaria a leitura mais tarde... mas não consegui parar antes da última página.

Esse é o texto que o mundo precisava neste momento dramático de sua história. No número 6 o papa revela que o tema central da encíclica é a “fraternidade universal”. Não pretende dizer tudo sobre o amor fraterno, mas apenas falar sobre essa abertura a todos, num tempo em que os tribalismos, partidarismos e todo tipo de fechamento sobre povos e ideologias ganham um espaço tremendo. O papa nos provoca a termos um coração aberto e fraterno. Afirma também que a Fratelli Tutti é uma encíclica social, assim como foram a Rerum Novarum de Leão XIII até a Caritas in Veritate de Bento XVI. Aliás, pelas minhas é pesquisas, a Caritas in Veritate é o documento social mais citado pelo Papa Francisco na sua terceira encíclica. Ele continua traduzindo o pensamento teológico do papa emérito Bento XVI de maneira muito pastoral, atual e provocativa.

Fiquei encantado com o primeiro capítulo, onde ele descreve as sombras de um mundo fechado sobre si. É como se o papa pintasse um cenário do nosso tempo, com todas as sombras que temos hoje e, a partir daí, nos outros capítulos ele mostrasse as luzes de esperança sobre este cenário de sombras. São os nossos dramas deste século 21, que já começa com uma pandemia inesperada, citada também no documento, que continua oferecendo caminhos de esperança.

O capítulo 2 já começa com a história do bom samaritano, esse estranho no caminho, que faz trazer todos para dentro da festa da vida. Essa é a proposta do cristianismo. Queremos chamar a Deus de Pai, como fez São Francisco, que em seu momento de conversão chamou a Deus de “pai nosso”.

O capítulo 3 procura pensar e gestar um mundo aberto. Precisamos estar mais próximos uns dos outros. Os povos e nações precisam estar mais próximos. O capítulo 4 me encantou porque, afinal, sou um sacerdote do Sagrado Coração de Jesus. O papa nos pede que tenhamos um coração aberto ao mundo inteiro. Precisamos ter um coração aberto e solidário. Esse pedido atravessa todas as páginas do texto da encíclica.  O quinto capítulo vai direto ao ponto da questão política, criticando os populismos. Ser popular não é ser populista. O papa denuncia a nova onda de demagogia mundial; não é democracia é demagogia. É um capítulo tão curto quanto forte. O sexto capítulo fala sobre o diálogo e a amizade social. Mostra como criar uma cultura do encontro na prática. Essa encíclica desdobra a cultura do encontro característica do Papa Francisco. No sétimo capítulo são apresentados caminhos de reencontro a partir da verdade. O papa mostra claramente como é que podemos arquitetar a paz. Ele usa a expressão “artesanalidade”. Devemos ser “artesãos da paz”. A paz se faz como tricô; é ponto depois de ponto; nó depois de nó. Não se faz simplesmente com projetos escritos. A encíclica crítica duramente a guerra e a pena de morte. Esta é claramente excluída de toda a possibilidade de legislação sensata. O capítulo oitavo é o último e encerra as reflexões do papa Francisco sobre a fraternidade universal. Ele afirma que as religiões estão à serviço da fraternidade no mundo e não se podem ser instrumentalizadas em favor de interesses particulares. A religião é instrumento de fraternidade e não instrumento de guerra, como alguns querem fazer crer.

A encíclica Fratelli Tutti termina com duas belíssimas orações, a primeira ao Criador e a segunda em tom mais ecumênico. O Papa Francisco acertou em cheio nesse texto sobre fraternidade inspirado em Francisco de Assis, patrono do seu pontificado, em um tempo tão dividido por discórdias e agredido por um vírus que nós não pedimos e por uma pandemia que nos incomoda em que demora para passar. O Papa Francisco lança uma luz de Esperança com sua nova encíclica Fratelli Tutti.

João Carlos Almeida (Pe. Joãozinho, scj)

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Papa Francisco assina a Encíclica "Fratelli Tutti" junto ao túmulo de São Francisco.
O Pontífice estava acompanhado de dois tradutores, entre eles o sacerdote português que se ocupou do texto no nosso idioma.

Fotos: Vatican News