Hoje é dia de São Lourenço, padroeiro dos diáconos e em comemoração a este dia, o Diácono Marcos, da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Engenheiro Beltrão, foi convidado a falar um pouco sobre como é fazer parte dessa vocação, que constituida na família, serve a Deus.
(Diáconos da Diocese em formação com Dom Bruno e Pe. Willian, em março de 2020)
Em tempos onde parece estar em voga falar de desafios, a Igreja também se remete à reflexão sobre sua missão no mundo e as situações que cobra dela atitudes cada vez mais firmes e comprometidas com a verdade do Evangelho. E talvez a maior dificuldade dos dias atuais esteja na necessidade de manter a autenticidade do Evangelho diante de fatos novos que surgem insistentemente no seio de uma sociedade que já não possui a mesma estrutura de valores como outrora...
É dentro desta realidade que renasce dentro da Igreja o ministério diaconal, que tem como princípio e natureza a própria Sagrada Escritura, e que teve papel fundamental na Igreja Primitiva, quando por meio do testemunho e da ação eficaz de homens escolhidos para a missão de “servir as mesas”, muitos outros foram convencendo-se que a proposta de Cristo de fato era o caminho seguro para alcançar o céu.
Da mesma forma que no início do ministério da Igreja esta vocação foi tão importante e deu respostas às necessidades daquele tempo, a restauração do diaconato permanente no Concílio Vaticano II também foi uma grande resposta aos tempos atuais. A proposta do Evangelho e a experiência de vida da sociedade atual vivem uma relação cheia de conflitos... O imediatismo, o egoísmo, a vaidade, a soberba, e tantas outras expressões negativas do ser humano fazem com que os desafios do anúncio da Verdade de Jesus Cristo sejam cada vez mais desafiadores. E aqui entra a figura do homem que vive a missão de ordenado, de escolhido pela graça do Espírito Santo para um serviço na Igreja, e ao mesmo tempo alguém que vive as experiências do matrimônio e de tudo aquilo que com ele tem relação. Diante desta dupla missão sacramental (Ordem e Matrimônio), o diácono permanente enfrenta seus grandes desafios, sem perder de vista o privilégio de ser chamado para tão nobre missão. Não é um privilégio que leva à vaidade. É um privilégio que alimenta e impulsiona a missão! Desta forma os deveres inerentes à função deixam de ser apenas “ossos do ofício” e passam a manifestar uma graça especial por parte d’Aquele que nos chamou!
Na tríplice missão diaconal do serviço da caridade, da Palavra e da Liturgia, o diácono expressa sua ligação profunda com o Cristo Servo, ao mesmo tempo em que, de forma visível, exprime sua ligação com a Igreja por meio da assistência ao Bispo, sucessor dos apóstolos. Grande erro é tentar reduzir o serviço prestado pelo ministério diaconal à um auxílio ao sacerdote ou ao próprio Bispo. Mesmo que o ministério tenha surgido com a intenção de colaborar com as necessidades da Igreja, ao longo do tempo, e principalmente nos dias atuais, ele tem a função também de expressar esta íntima relação entre sociedade e Igreja, sem prejuízo do significado profundo de ser sinal visível da graça divina no seio desta sociedade. Nesta ligação natural do ministério diaconal com o bispo está implícita que a essência do mesmo é o serviço. Da mesma forma que o sacerdote é tirado do meio do povo para apresentar a Deus a oferta do povo (Hb 5,1), o diácono é escolhido também dentro do seu próprio povo a fim de servir à estes (At 6,3), para que ninguém seja desassistido ou prejudicado naquilo que necessita. E dentro desta dinâmica do serviço ministerial o diácono permanente ainda precisa se preocupar com a família, tentando viver a harmonia entre o ministério diaconal e o sacramento do matrimônio. Aliás, o testemunho de ser pai, esposo, provedor do lar talvez seja o maior desafio dos tempos atuais...
Por tudo isso até agora exposto podemos afirmar que a família do diácono permanente exerce de forma direta uma grande missão: ela ajuda no serviço ministerial compreendendo a missão e estendendo a mão no dia-a-dia, principalmente diante das dores e dificuldades que o ministério apresenta. E de forma indireta a família compartilha do ministério, mesmo que apenas o diácono tenha recebido o Sacramento da Ordem. Tudo está intimamente ligado e profundamente harmonizado.
Por fim, é necessário expressar também um sentimento presente no coração de cada um de nós, diáconos permanentes desta querida diocese de Campo Mourão: a gratidão! Somos gratos à todas as comunidades paroquiais, aos padres, ao nosso bispo, à todas as lideranças leigas que aceitam nosso ministério com tanto amor e que o valorizam de forma tão explícita. Nós queremos ajudar nesta caminhada do povo de Deus, sendo sinal que exprime comunhão.
Queremos colaborar nesta missão tão especial de levar o Evangelho de Cristo à todos os povos, muitas vezes não precisando utilizar palavras, mas falando de Jesus por meio do testemunho. Desejamos viver a missão com despojamento e discernimento, servindo ao Senhor com alegria (Sl 99,2).
Que nossos olhos sejam capazes de enxergar além daquilo que humanamente podemos ver, e que nosso coração seja capaz de doar-se ao próximo com caridade e sem reservas, à exemplo de Maria de Nazaré, que não hesitou em dar o seu “Sim” com disponibilidade e amor.