Os sinais do Cristo na celebração do Tríduo Pascal

06 de Abril de 2023

Os sinais do Cristo na celebração do Tríduo Pascal

Na vivência da Semana Santa e próximos do Tríduo Pascal que é o centro de todo o ano litúrgico, é importante considerarmos alguns dos sinais de Cristo presentes nas celebrações desses dias e que nos ajudam a viver melhor a renovação do mistério pascal de Cristo e nos imergirmos nos acontecimentos centrais que nos deram a salvação.

A eucaristia, o lava pés e a vigília na Quinta-feira Santa.

Na tarde da Quinta-Feira Santa tem início o Tríduo pascal com a Missa da Ceia do Senhor. A tradição pedia que cada família judaica se reunisse na Páscoa para comer um cordeiro assado, lembrando a libertação do Egito. Jesus cumpre esse rito sabendo que sua morte se aproximava, e no cenáculo pronuncia a benção sobre o pão e o vinho, dizendo ser seu corpo e sangue para nossa salvação (cf. 1 Cor 5, 7). Ou seja, é Ele o novo Cordeiro e libertador!

A última ceia significa então a antecipação do sacrifício da cruz, da mesma forma que cada missa é a perpetuação desse mesmo sacrifício. Aquilo que na ceia foi antecipado, na missa torna-se presente pela eucaristia: a morte e ressurreição de Jesus! Os apóstolos são constituídos ministros desse sacramento, razão pela qual na manhã da mesma quinta-feira santa o bispo e o seu presbitério renovam as promessas sacerdotais.

Quanto ao lava-pés, esse rito recorda o que Jesus fez aos discípulos na última ceia (cf. Jo 13, 1-25). Tal gesto traduz na vida prática o que a eucaristia é em natureza: o serviço de amor de Cristo. A repetição desse rito na liturgia nos convida testemunhar o amor de Jesus com fatos concretos, amando uns aos outros como Cristo nos amou (cf. Jo 15,12), na doação da vida.

Esse dia termina com a adoração eucarística, recordando a agonia do Senhor no Getsêmani. Jesus se retirou para rezar ao Pai, sozinho, e sentindo uma grande angústia (cf. Mt 26,38) pediu aos discípulos que permanecessem ali e vigiassem. Por isso essa noite não é para expor o santíssimo, mas para se recolher com Ele, preparando o espírito, combatendo a sonolência da consciência que nos leva a insensibilidade diante do mal.

A adoração da Cruz e o jejum na Sexta-feira Santa.

Na Sexta-feira Santa fazemos memória da paixão e da morte de Jesus. O rito fundamental consiste na adoração da cruz, mas não a cruz por si mesma, e sim o Cristo nela crucificado. O silêncio diante daquela única cruz que deve ser desvelada e exposta na Igreja nos faz mergulhar no significado das palavras pronunciadas por Jesus na última ceia, que era prelúdio da cruz: “Isto é o seu sangue, sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos” (Mc 14, 24).

O jejum e a penitência desse dia são modos de participação nos sofrimentos dos sofrimentos de Jesus. Esse mistério se expressa também nos sinais visíveis do altar desnudado, os poucos cantos sem o acompanhamento de instrumentos e o silenciar dos sinos. A prostração do presidente no início da celebração significa a humilhação do homem pecador e a tristeza da Igreja pela morte do seu Senhor.

Outro rito característico na sexta-feira santa é a oração universal com amplitude de intenções: pela Igreja, pelo papa, pelos fiéis, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos que não creem no Cristo, pelos que não creem em Deus, pelos poderes públicos, pelos que sofrem provações. Esse rito expressa a universalidade da salvação realizada por Cristo na cruz. De fato, o Senhor morreu para a salvação do mundo inteiro, como disse: “mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32).

Também nessa celebração da Paixão do Senhor a comunhão só é distribuída, mas sem a renovação do sacrifício da missa. Dirigindo “o olhar para aquele que trespassaram” (Jo 19, 37) devemos ter em consideração o sofrimento dos doentes, dos pobres, de tantas vítimas inocentes de guerras e outras formas de violências. Diante do crucifixo, em adoração, devemos ter os crucificados de hoje, que só de Jesus podem receber o alívio e descobrir o significado dos seus sofrimentos.

A luz e o fogo na Vigília Pascal do Sábado Santo.

A Vigília Pascal tem caráter noturno, começando não antes do anoitecer e terminando antes da aurora. Ela representa a noite da nova criação em que Deus diz novamente: “Faça-se a Luz” (Gn 1,3), e Jesus, Luz do mundo (cf. Jo 8,12), ressuscita dos mortos. Esse mistério nos é apresentado no sinal do círio pascal, que é uma luz que vive em virtude do sacrifício: ilumina consumindo-se a si mesmo; dá luz oferecendo a própria vida. Por isso o círio representa o mistério pascal de Cristo, que ao dar a sua vida iluminou a nossa.

Conforme nos recorda o canto do “Exulte” na solene vigília, o círio recorda ainda o trabalho das abelhas que fabricam a cera, representando que em Cristo toda a criação se tornou portadora de luz. Quando a comunidade viva dos fiéis se reúne e evangeliza faz como o trabalho das abelhas: constrói a Igreja, que existe como um candeeiro para que a luz de Cristo possa iluminar todo o mundo (cf. Mt 5,15-16).

Essa realidade nos alcança e nos envolve por meio da profissão da fé e do batismo que os adultos fazem e recebem no Sábado Santo. No batismo, é como se o Senhor dissesse ao catecúmeno: “Faça-se a luz”; e dali em diante o fogo de Cristo transforma a vida do batizado que passa a viver um novo dia, uma nova vida em Cristo. É por isso que a Igreja chama o Batismo também de iluminação, nome que se dá a etapa preparatória a Iniciação Cristã.

Abençoado Tríduo Pascal à todos!


Pe. Willian Oliveira Lopes - Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Dir. Espiritual do Seminário N. Sra. do Guadalupe