A Iniciação à Vida Cristã tem sido um tema muito presente nos últimos anos. Fazer com que ela aconteça com o estilo catecumenal é um desafio. Uma iniciação que envolva a pessoa inteira, em todas as suas dimensões (emocional, intelectual e espiritual), distendida por etapas através de um período de tempo necessário para assimilar o modo de ser cristão, não pode ser compreendida como mais uma pastoral. Um acréscimo. Ela é, na verdade, um modo de ser Igreja. Ou, em outras palavras, é uma consequência do ser da Igreja. Brota da vida da Igreja e só se compreende nela.
Atualmente nos referimos à Iniciação simplesmente pelo nome de catecumenato, embora saibamos que esta palavra não expressa toda a riqueza deste processo ou itinerário. Vamos usá-lo assim também. O catecumenato é a Igreja em ação e não simplesmente apenas mais uma atividade pastoral. Da mesma forma, não existe Igreja sem ação catecumenal, porque a Igreja é uma mãe que gera filhos perpetuamente. Esta imagem da Igreja com uma mãe que gera filhos pode ser entrevista já no Novo Testamento: Gl 4,19 e, principalmente, Ap 12; entre outras menções. O catecumenato é, portanto, expressão da vitalidade e fertilidade da Igreja. O Concílio Vaticano II (1962-1965) em sua constituição dogmática sobre a Igreja recolheu o ensinamento de santo Ambrósio que comparava a Igreja a Maria, apoiando-se na maternidade, pois “a Mãe de Deus é o tipo da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo – pois também a Igreja é com razão chamada mãe e virgem” (Lumen Gentium 64).
Os primeiros cristãos já descreviam a atividade catecumenal da Igreja para com os convertidos a comparando com uma mãe que gera e nutre seus filhos. Um belo exemplo nos é dado por Cipriano, que viveu mais ou menos entre 200 e 258; sendo decapitado em uma perseguição quando era bispo de Cartago. Ao escrever sobre a unidade da Igreja e, principalmente, do seu episcopado, se refere a ela como uma mãe que tem muitos filhos:
“A Igreja é una, embora compreenda uma multidão sempre crescente com o aumento de sua fecundidade; assim como há uma só luz nos muitos raios de sol, uma árvore em muitos ramos, um só tronco fundamentado em raízes tenazes, muitos rios de uma única fonte, assim também esta multidão guarda a unidade de origem, se bem que pareça ser dividida por causa da abundância inumerável dos que nascem com prodigalidade.
A unidade da luz não comporta que se separe um raio do centro solar; um ramo quebrado da árvore não cresce; cortado de sua fonte o rio seca imediatamente. Do mesmo modo a Igreja do Senhor que, como a luz derramada estende seus raios em todo o mundo, é uma única luz que se difunde sem perder sua própria unidade. Ela desenvolve seus ramos por toda a terra, com grande fecundidade; ela derrama ao longe seus rios, com toda liberalidade, e, no entanto, é uma na cabeça, uma pela origem; uma mãe imensamente fecunda. Nascemos todos de seu ventre, somos nutridos com seu leite e animados por seu espírito.” (CIPRIANO DE CARTAGO. A unidade da Igreja Católica, 5).
Somente uma Igreja que anuncia e evangeliza, inicia, gera novos filhos. Por isso, o Papa Francisco insiste tanto em uma mudança de mentalidade: de uma pastoral de manutenção para uma pastoral decididamente missionária. Uma Igreja “em saída”. Capaz de dialogar com os homens e mulheres de hoje e atraí-los para Cristo. Não era outro o objetivo do Concílio Vaticano II e utilizando a mesma imagem da Igreja-mãe, como em seu decreto sobre Os Bispos e as Igrejas Particulares, pedindo que eles “Proponham a doutrina cristã por um método adaptado às necessidades dos tempos [atuais]” e “Ao transmiti-la, comprovem a materna solicitude da Igreja para com todos, quer fiéis quer não-fiéis” (Christus Dominus 13). E em seu decreto sobre O Ministério e a Vida dos Presbíteros, após lembrar que eles são enviados a todos os homens e mulheres, “imbuídos de espírito missionário”, afirma que se lhes recomendam, no entanto, especialmente “os catecúmenos e neófitos, que precisam ser educados, passo a passo, para a descoberta e a prática da vida cristã” (Presbyterorum Ordinis 6).
“Os catecúmenos que, movidos pelo Espírito Santo, querem por vontade explícita incorporar-se à Igreja, por esse mesmo desejo a ela se ligam. Com amor e desvelo a Mãe Igreja já os abraça como seus”; e a Igreja, “mediante a palavra de Deus recebida na fé, torna-se também ela mãe. Pois pela pregação e pelo batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus” (Lumen Gentium 14 e 64).
O modo como a Igreja, que é todo o povo de Deus e cada fiel, deve receber e se empenhar pelos catecúmenos é o da mãe amorosa que gera e alimenta seus filhos. Não podemos nos esquecer nunca que no catecumenato não se trata simplesmente de aprendizagem ou algo do gênero. Trata-se de pessoas. Filhos queridos. Não basta, portanto, a Igreja mãe repetir protocolos ou esquemas. É preciso criatividade e disposição para o diálogo dentro das condições existenciais dos catecúmenos. Ser conscientes de nossa missão e olhar com lucidez as situações pastorais nas quais nos encontramos, tendo a liberdade de responder a eles de modo conveniente.
Ligada a esta imagem da Igreja como mãe que gera e alimenta seus filhos, encontramos também outras muito expressivas. A imagem vital da gestação goza de apresso pelos Santos Padres do IV século. O catecúmeno é como um bebê que está sendo gestado. Desenvolve-se no seio materno e se fortalece até que esteja pronto para vir ao mundo através do batismo.
A imagem bíblica do caminho também é apreciada. Nos Atos indica a própria Igreja. Orígenes explora essa imagem em sua leitura tipológica das Escrituras. Ele compara o catecumenato ao êxodo do povo hebreu. A entrada no Mar Vermelho é a entrada no catecumenato e a passagem pelo Jordão o batismo. A entrada na Terra Prometida é a entrada no Povo de Deus que recebe a Palavra e se exercita em vivê-la.
Com Tertuliano, aparece a imagem do catecúmeno como noviço e o catecumenato como noviciado, durante o qual os jovens se exercitam. Esta imagem, além de ser bem presente aos seus ouvintes e leitores, tinha a vantagem de sublinhar o aspecto prático, existencial, do aprendizado cristão. Os noviços são recrutas se exercitando para o juramento de fidelidade que os tornarão soldados para o combate. Depois de Tertuliano, muitos utilizarão essa imagem.
Encontramos outras imagens, um pouco menos usuais, mas ainda assim interessantes: Arca de Noé que, com seus três andares, indica os diversos níveis da iniciação. Planta, que a partir da semente, cresce pouco a pouco até o dia em que pode produzir frutos. Por fim, a imagem do noivado, tempo de prova que se conclui com o matrimônio.
Existe uma imagem bíblica, embora deixada um pouco de lado pelos autores modernos, que se sobrepõe à todas, a do discipulado. É uma imagem que expressa dinamismo e empenho vital. São Basílio afirma que o catecúmeno é um convertido que entra no discipulado para se tornar, pelo batismo, discípulo do Mestre.
“A Igreja não é somente uma mãe para os seus filhos; é também, e deve sê-lo incansavelmente, uma mãe através dos seus filhos. Todo cristão é ao mesmo tempo filho e mãe, filho da mãe, mas também mãe dos filhos. Através de seus próprios filhos e filhas a Igreja será sempre jovem e parirá perpetuamente” (MICHEL DUJARIER).
Artigo de Padre Belini, colunista do Jornal Servindo