A Igreja em Antioquia mostrou uma vitalidade impressionante desde o princípio do cristianismo. Uma comunidade missionária deve se preocupar com a iniciação dos novos membros. Encontramos ali, no mesmo período de tempo, dois dos maiores nomes do catecumenato antigo. Os amigos de mosteiro, João Crisóstomo* e Teodoro de Mopsuéstia. Quando Teodoro quis deixar o mosteiro para seguir a jurisprudência e se casar, foi João quem o convenceu a ficar. Como João, também Teodoro teve como mestre de retórica o grande orador pagão Libânio e frequentou a escola catequética de Diodoro. Foi quando decidiram se retirar para a vida monástica. Teodoro tinha cerca de 20 anos.
Teodoro nasceu em Antioquia, por volta do ano 352. Ali foi ordenado presbítero, possivelmente, em 383. Em 392 foi sagrado bispo de Mopsuéstia, na Cilícia, onde faleceu em 428. É lembrado como um grande exegeta, tendo comentado praticamente toda a Sagrada Escritura. Durante sua vida, foi estimado e tido como ortodoxo. Mas um de seus discípulos, Nestório, se envolveu em disputas cristológicas, ou seja, quanto ao modo de compreender as duas naturezas de Cristo, a humana e a divina, sendo condenado como herético. A condenação do discípulo fez recair a dúvida sobre o mestre. Razão pela qual quase a totalidade dos seus escritos foi destruída.
Teodoro indica o ingresso no catecumenato com a marca na fronte do sinal da cruz, como o exército marcava seus recrutas: “Esta consignação com a qual és assinalado agora, é o sinal com que te tornaste doravante ovelha de Cristo. Com efeito, uma ovelha de sua aquisição recebe a marca pela qual se reconhece a qual mestre ela pertence; assim ela pasta na mesma pastagem e ela está no mesmo abrigo onde ficam as que foram assinaladas com a mesma marca, indicando que elas pertencem ao mesmo dono” (Théodore de Mopsueste, Les Homélies, XIII, 17)
No século XX foram descobertas algumas obras e fragmentos de sua grande produção. O que tem permitido também uma revisão da acusação de heresia. Entre essas, as Homilias Catequéticas, publicadas entre 1932 e 1933. Encontradas em sua tradição siríaca, devem ter sido pronunciadas por Teodoro em Antioquia, quando sacerdote, entre 388 e 392. São de grande importância para a história da liturgia e para o conhecimento do catecumenato antigo. Nelas, encontramos uma explanação do Símbolo, ou seja, nosso Credo; do Pai-Nosso; da liturgia batismal e da eucaristia. São ao todo 16 homilias.
A estrutura geral do catecumenato e da iniciação sacramental é a mesma já encontrada em João Crisóstomo. O catecumenato em duas etapas, dando relevo à segunda, aquela que prepara intensamente o candidato ao batismo em sua tríplice dimensão: catequética, ascético-penitencial e ritual. Preparação essa ligada a quaresma e a celebração na vigília pascal. Valorização da inscrição ao início da quaresma; da celebração cotidiana dos exorcismos; da entrega do Símbolo e da renúncia a Satanás e adesão a Cristo. Papel de destaque em Teodoro tem os padrinhos, catequistas e exorcistas. Por fim, a descrição das várias unções; a celebração do batismo, crisma e eucaristia.
A descrição de Teodoro também complementa a feita por João, já que por uma sensibilidade diferente, possui acentos que conferem novidade. Teodoro privilegia a exposição dogmática e sacramental, enquanto a de João, a ascético-penitencial; Teodoro também nos dá maiores informações rituais, sobretudo dos exorcismos. Na semana após a páscoa, a missa é explicada aos neófitos.
O candidato nu, sinal de sua indigência e mortalidade, depois de ungido pelo bispo em todo seu corpo, e benta a água da piscina batismal que representa o seio maternal da Igreja, é imerso três vezes, com a fórmula na passiva, porque tudo é dom de Deus: “... é batizado no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. O batismo “permite morrer e ressurgir com o Cristo, de renascer para uma vida nova (Les Homélies XIV, 6); na água, “foste renovado e replasmado, ali deixaste tua antiga mortalidade e revestiste uma natureza imortal e incorruptível” (Les Homélies XIV, 11).
Para compreender o pensamento de Teodoro, é preciso ter presente a estrutura do seu pensamento: o homem foi criado por Deus à sua imagem, mas pelo pecado, caiu sob o domínio de Satanás. Deus o liberta desse domínio pela morte e ressurreição de seu Filho. Essa libertação é dom de Deus e graças a ela poderá habitar com Ele nos céus. Os sacramentos, sobretudo o batismo e a eucaristia, são já na terra antecipação dessa vida celestial. Mas o homem precisa fazer sua parte. Por isso, o catecumenato, principalmente em sua segunda etapa, é visto como um tempo de combate espiritual. A renúncia a Satanás implica também na renúncia de suas obras, ou seja, de todo pecado. O exorcismo não é apenas um ato litúrgico, é um comprometimento existencial: passar do domínio de Satanás ao de Deus.
Padre Luiz Belini