Pe. Luiz Antonio Belini
João nasceu em Antioquia, na Síria, de família ilustre. O ano exato nos é desconhecido. Pensa-se em uma data entre 344 e 354. Responsável pela sua primeira educação foi a mãe, viúva aos vinte anos. Uma cristã piedosa que soube transmitir ao filho a fé. Embora, como costume da época, tenha recebido o batismo somente quando adulto, em 372. Recebeu uma sólida formação literária e filosófica, tendo entre seus mestres os mais renomados de sua época.
Sempre levou uma vida muito sóbria. Na juventude, logo que pode, passou por uma formação cristã sob a direção de um eremita, ele mesmo, depois, vivendo como eremita, um monge de vida ascética e desértica, nas montanhas vizinhas de Antioquia. Mas as duras condições deterioraram sua saúde, o obrigando a voltar para a cidade.
Em Antioquia, foi ordenado diácono em 381 e, em 386, presbítero. Até o ano de 397 assumiu o ofício de pregador na Igreja principal. Sua formação retórica e seu profundo conhecimento das Sagradas Escrituras logo o fez despontar como grande orador, sendo até hoje considerado um dos maiores oradores do cristianismo. O que lhe rendeu o cognome de "crisóstomo", ou seja, "boca de ouro". Deste período, temos algumas de suas homilias dirigidas aos "iluminandos", ou seja, aqueles catecúmenos que deram seu nome para o batismo e passavam pela formação durante a quaresma.
"João levava vida muito simples em Constantinopla, cuidando zelosamente dos pobres e enfermos. Esforçou-se por abolir toda espécie de relaxamento da Igreja" (B. Altaner e A. Stuiber)
Por ordem do Imperador Arcádio, do Império Romano do Oriente, contra sua vontade, foi levado e feito patriarca de Constantinopla, a maior autoridade eclesiástica daquela Igreja, já que ainda não havia uma clara primazia da Igreja de Roma. Nos anos em que viveu e trabalhou ali, João granjeou muitos inimigos dentro e fora da Igreja. Sendo condenado ao exílio pela Imperatriz Eudóxia, morreu durante a viagem, em Comana, no Ponto, em 14 de setembro de 407.
Através de suas homilias, sabemos que em Antioquia, a preparação para o batismo acontecia em duas etapas: a dos simples catecúmenos, que depois da chamada "paz de Constantino" se tornou a maioria, não tendo um período definido de tempo nem uma grande exigência formativa. E daqueles que deram seus nomes para o batismo na vigília pascal, os iluminandos. Traduzindo literalmente do grego: "os que serão iluminados" pelo batismo. Em Antioquia, esta segunda etapa durava 30 dias. Mas eram dias intensos. Concentrava-se naquela tríplice dimensão que já encontramos em outros lugares: catequética, ascético-penitencial e ritual. Nas homilias que chegaram até nós percebe-se um interesse especial de João pela dimensão ascético-penitencial. O que não é de estranhar, conhecendo sua biografia.
Dirigindo-se aos iluminandos, João nos descreve a cena de um destes batismos no leito de morte, daqueles que permaneceram a vida toda como catecúmenos e deixaram para pedir o batismo no último momento. É algo mais comparável com a nossa chamada "extrema-unção", bom para nossa reflexão:
"Não só vos declaro felizes, mas louvo também vossa sabedoria, porque não são como os homens preguiçosos que procuram a iluminação nos últimos instantes da vida (...). De fato, se as condições da graça são iguais (...) não é a mesma coisa, sob o plano da escolha pessoal e nem mesmo pelo espetáculo que aqueles oferecem. Aqueles o recebem no leito, vós, ao invés, no seio da Igreja, mãe comum de todos; aqueles aflitos e em lágrimas, vós felizes e exultantes; aqueles gemendo, vós, agradecendo; aqueles perturbados pela grande febre, vós repletos de muita alegria espiritual. Por isso, aqui cada coisa está de acordo com o dom, lá, ao invés, tudo lhe opõe: grande é o lamento e gemido daqueles que são iniciados, e estão em volta deles as crianças que choram (...). De fato, se pensa que a chegada do sacerdote seja causa de desespero maior que a voz do médico que declara o fim de sua vida, e o que é argumento de vida eterna parece ser símbolo de morte..." (João Crisóstomo, Cat. II, 1, PG 49, 223-225)
Entre as causas para deixar o batismo para o mais tardar possível está o medo das severas penitências em uso na Igreja para aqueles que cometem faltas graves. Como o batismo apaga os pecados, morreriam no chamado "estado de graça". Evidentemente, é uma distorção na compreensão dos sacramentos. Para nós, isso é estranho. Nosso questionamento atual é quanto ao batismo de recém-nascidos e não daqueles que estão para morrer.
"É certamente uma conduta insensata, porque o batismo na hora da morte é incerto e, mesmo se o recebe, que fruto produz? Não se deve temer o pecado depois do batismo, porque Deus é fiel e proveu à fraqueza humana novos meios de reparação, como a oração, a esmola e as boas obras" (Omel. 1 su At. 6-7; PG 60,23-24).
João não dá detalhes sobre a inscrição que marca a passagem do simples catecumenato para o grupo dos iluminandos. É provável que, pelo grande número, o exame detalhado conduzido pelo bispo ou alguém por ele indicado tivesse sido substituído pela declaração dos “garantidores”, que testemunhavam sobre as intenções dos candidatos e se esforçavam por ajudá-los. São os padrinhos e madrinhas. No pensamento de João adquirem um papel de grande relevo. Uma tradução mais expressiva para nosso contexto poderia ser “fiador”: “Se alguém que se torna fiador em questão de dinheiro se responsabiliza por tudo, quanto mais aquele que se torna fiador – diante de Deus e da comunidade – por alguém a propósito das coisas espirituais” (Cat. VI, 15; SC 50, 142).