Bênção do Santíssimo no Hospital Santa Casa de Campo Mourão

05 de Abril de 2020

Bênção do Santíssimo no Hospital Santa Casa de Campo Mourão

Estamos vivendo um tempo difícil de pandemia no mundo, e nós precisamos estar rezando em união para que Deus possa nos proteger e livrar de todo mal. Hoje a nossa Igreja celebra o Domingo de Ramos, dia que se faz memória a entrada de Jesus em Jerusalém montado em um jumentinho – o símbolo da humildade – e aclamado pelo povo simples que O aplaudia.

Devido a estas celebrações sem público, cada comunidade usou das mais diversas atividades pastorais para atender os seus fiéis nesse tempo em que cada um quer suplicar as suas bênçãos para suas vidas e de suas famílias. Na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Campo mourão, o Padre Adilson e Frei Aleph junto com algumas lideranças da comunidade fizeram um passeio com o Santíssimo passando por todas as ruas, visitando as casas da comunidade dando a bênção as famílias e aos ramos que foram colocados no portão das casas.  Na programação da visita, o Padre também passou pelo Hospital Santa Casa de Campo Mourão, onde estão sendo atendidos as vítimas do CoronaVírus. Não só os pacientes de Campo Mourão, mas de toda a região da COMCAM.

Durante a visita, Padre Adilson passou por todos os corredores do hospital, visitando as alas, rezando pelos pacientes e pelos agentes da saúde e toda a administração do hospital. A visita também passou pela pediatria e pela UTI neonatal, onde foi acolhido por muitas mães com suas crianças no colo, pelas famílias que ali estão sendo acompanhadas pelo hospital.

Após este momento, a procissão continuou pelo hospital, rezando com os pacientes e os funcionários. Por onde o Santíssimo passava, as pessoas rezavam juntos pela recuperação e pelas famílias. A procissão saiu do hospital e passou pela Vila Rural Flor do Campo, onde os fiéis aguardavam em frente de suas casas com ramos.

Este momento em que vivemos é necessário intensificar nossas orações pelos pacientes e responsáveis da saúde que estão a frente em combate contra o vírus. Peçamos a Deus que cure e proteja cada família do mundo inteiro, principalmente os pacientes e os agentes da saúde, que estão sendo chamados de nossos heróis!

O PADRE QUE NÃO QUERIA CELEBRAR A SEMANA SANTA

Como em todos os anos, esperava que em 2020 tivéssemos uma belíssima celebração de Domingo de Ramos, para proclamarmos a abertura da Semana Santa e a entrada triunfal de Jesus em Jerusalem, mas nem tudo é como a gente quer.

A grande tristeza veio com a notícia de que por razão da pandemia Covid-19 as igrejas estariam fechadas e os fiéis não poderiam participar presencialmente das missas. Isso me deixou profundamente desolado e sem vontade de celebrar, fui até pedir a dispensa para o bispo das funções que deveria exercer nesse momento. E o que ele disse? “O momento é difícil para todos. Acho que aquele nosso povo que está sempre ao nosso lado ficará contente em acompanhar as celebrações, mesmo que mais breves. Pense nisso.”

Suas palavras não me agradaram, porque minha vontade era não celebrar nessas circunstâncias. Mas resolvi ser obediente, afinal, é melhor errar com a igreja do que acertar sozinho.

Organizei as celebrações e deixei Deus conduzir, avisando as pessoas para não se preocuparem que iria dar tudo certo. Então, Deus começou a entrar em ação.

Primeiro pediu para arrumar um carro para fazer um passeio com o Santíssimo pelas ruas da paróquia, para abençoar os ramos e as pessoas que não puderam estar na igreja. Estranho porque pelas Sagradas Escrituras, Jesus entrou em Jerusalém montado em um jumentinho.

Fizemos como Deus pediu. Organizamos tudo, pedimos para as pessoas colocarem ramos nas portas ou portões e quando Jesus passasse, que saíssem nas janelas ou portas. Terminada a missa, lá vou "eu" solenemente levar Jesus para as ruas.

Enquanto passava de carro pelas ruas da comunidade estava maravilhado. Ver a emoção das pessoas, a receptividade, a fé estampada no rosto das pessoas era tudo muito forte. Percorremos toda paróquia. Até que chegou a hora de ir para a Santa Casa, onde as vítimas do Coronavírus estão sendo tratados.

A princípio a ideia era chegar na porta do hospital, rezar, abençoar e ir embora. Mas Deus sabe o que faz. Ele foi me conduzindo pelos corredores do hospital, o jumentinho agora era eu que trazia nas mãos o Rei dos Reis, e nos ombros o peso da responsabilidade. Os corredores daquele hospital se tornaram as ruas de Jerusalém, onde funcionários iam saindo das portas dos quartos, de trás dos balcões, parando por um momento o que estavam fazendo, e o mais surpreendente, nem todos eram católicos, talvez alguns nem cristãos eram, mas estavam ali, porque algo diferente estava acontecendo.

Mas faltou os ramos! Não, os ramos estavam ali. Eram os estetoscópios, termômetros, jalecos brancos, verdes, azuis, canetas e prontuários, vassouras e baldes, cadeiras de rodas e macas, cada um apresentava a Jesus o que tinha no momento. Por onde Jesus passava era possível ouvir no silêncio daqueles corredores gigantes o múrmuros de preces que se levantavam a Deus. Não era o grito do povo que outrora proclamava: “Hosana ao Filho de Davi”, mas as esperançosas orações que replicava o eco da voz do próprio Jesus no alto do Calvário quando rezava o Salmo: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes (Sl 21).

Lagrimas, emoções tomavam conta das pessoas. Expressões de tristeza e cansaço se transformavam em esperança, afinal o Senhor da vida estava ali para cumprir sua promessa: "pedi e vos será dado, batei à porta e ela vos será aberta, procure e encontrareis" (Mt 7,7s), ou então “eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28,20).

Quando me dei por conta estava com Jesus na porta da UTI de isolamento do Covid-19. O que fazer? Parei ali diante daquela porta fechada e comecei a rezar. Me veio no coração o rito de chegada na igreja após a procissão de ramos. O padre de fora faz sua foz ressoar: “Ó portas levantai vossos frontões, elevai-vos bem mais alto antigas portas, afim de que o Rei da glória possa entrar.”

Mas eu não estava na igreja, achava que aquele rito não fazia sentido ali, naquele momento, naquele lugar, afinal esse rito já caiu em desuso a muito tempo nas liturgias de nossas comunidades. Mas para minha surpresa, lá de dentro alguém diz: “quem está aí? Quer falar com alguém?” Era a mesma resposta que se segue no rito, mas em outras palavras.

Então percebi que estávamos realizando naquele momento a verdadeira liturgia da vida. Aquela que fomos convidados a celebrar nesse tempo de isolamento social, onde igrejas estão vazias de pessoas, mas cheia da fé daqueles que não puderam ali estar.

Com esse sinal então comecei a rezar. Dizia a Jesus: “Senhor, entra nessa UTI, fala para essas pessoas, toca com tua unção cada doente, cada profissional da saúde, independente da fé, do credo...” Eu rezava consagrando todos a Jesus, e aí veio o momento mais forte. Achei que iria entrar no setor de isolamento daquela UTI, mas não podia. Tive que ficar ali mesmo.

Na igreja, quando as portas se abrem, o padre com o povo entra solenemente, mas ali não podia. Uma barreira invisível me impedia naquele momento de entrar e fazer o que eu queria fazer naquele lugar. Por isso eu me dizia internamente que queria levar Jesus para as pessoas que não podiam ir até Ele.

Foi então que Ele (Jesus) me disse forte no coração: “não é você que me leva às pessoas, sou Eu que levo você onde quero e até onde você pode ir”.

Nesse momento não me contive emocionalmente diante de uma presença tão forte de Deus em minha vida. Entre lágrimas, fechei os olhos e vi nitidamente o Senhor segurar nas mãos daqueles médicos e enfermeiras que ali estavam, e entraram, enquanto eu ficava ali na porta na minha insignificância, apenas a rezar.

Não sei o que será essa semana santa. Só sei que desde a quarta-feira de Cinzas eu pedi para Deus fazer a vontade Dele em minha vida e que minhas penitências me ajudassem a experimentar com força no coração a sua infinita Misericórdia.

Para mim o viver é Cristo, e agora, depois dessa forte experiência, morrer é lucro (Filipenses 1,21 – meu lema de ordenação).

Rezemos pelos verdadeiros heróis que estão arriscando suas vidas nos hospitais, nas UTI’s, nas ambulâncias, nos carros funerários e nos cemitérios, e mesmo sem saber, dizem como o profeta: Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado (Isaías 50,7).

Pe. Adilson Naruishi

Você pode ver as fotos em:
http://diocesecampomourao.org.br/galeriadefotos/19/bencao-do-santissimo-no-hospital-santa-casa-de-campo-mourao